Já que voltamos pra era dos trocentos canais de TV com suas assinaturas próprias, falar sobre alternativas de acesso livre a conteúdos se mostra ainda muito relevante.
Não é segredo pra ninguém que a minha geração cresceu usando torrent pra assistir as séries e filmes que queria. Programas como eMule, LimeWire e o meu favorito da época Ares Galaxy, que me permitia mesmo que com uma internet discada lentíssima, eu pudesse ouvir música e assistir minhas séries e filmes no conforto do meu monitor CRT de 15 polegadas numa época em que ter TV por assinatura era completamente fora do alcance da minha família e das famílias do meu bairro.
Mas aí veio a promessa do streaming. Serviços como Netflix, iTunes, Spotify e outros que ofereceram acesso super conveniente por um preço relativamente baixo a praticamente “qualquer” conteúdo disponível na internet como uma solução lucrativa para o acesso não autorizado de conteúdo (pirataria). Esses serviços cumpriram sua palavra e fizeram com que a maioria das pessoas ignorassem completamente a existência dos outrora tão utilizados torrents.
De lá pra cá muita coisa mudou, Netflix deixou de ser a única plataforma grande de streaming, grandes estúdios como Disney, Warner Bros, Paramount entre outros lançaram suas próprias plataformas e vem batalhando entre si pelo dinheiro do consumidor no que tem sido chamado de “batalha do streaming”.
Então agora que a grande comodidade de encontrar todos os seus filmes favoritos no mesmo aplicativo não existe mais e que a soma das assinaturas necessárias pra se manter em dia com as produções mais relevantes/interessantes do momento já não é mais irrisória, configurar um servidor local que automaticamente faz download do episódio que acabou de ser lançado já com legenda e tudo, parece bem vantajoso.
No nosso caso, um servidor de mídia pode ser definido como um computador que monitora, baixa, armazena, organiza e exibe os filmes e séries que a gente quer assistir assim que eles estiverem disponíveis em qualidade Full HD (nada de filmagem de tela de cinema).
Assim como todo bom programador empolgado, resolvi que ia rodar um cluster Kubernetes(k8s) usando k3s. Precisava? Não! Mas quis fazer mesmo assim.
Hoje em dia eu rodo um cluster k8s com 3 nós e tô usando como nome os conjuntos habitacionais (COHAB) lá da Cidade Nova, bairro de onde eu sou.
Então até agora tenho:
nome | hardware | memória ram | ||
---|---|---|---|---|
cn4.lan | raspberry pi 4 | 4G | ||
cn5.lan | ThinkCentre M710q | 16G | ||
cn6.lan | raspberry pi 4 | 8G |
Ficou curioso com a maluquice que eu fiz, dá uma olhada no código do meu cluster aqui: https://github.com/thiagoalmeidasa/homelab
Baseado nos serviços daqui wiki.servarr.com e daqui linuxserver.io
Sonarr é um aplicativo de rastreamento de série. Este programa facilita a sua vida, sem a necessidade de se preocupar quando um novo episódio vai ao ar. Ele pode monitorar diversas séries, e assim busca automaticamente novos episódios, além de transferir todos os arquivos da sua pasta de mídia, classificando-os e renomeando-os de acordo com sua configuração.
Minha configuração do Sonarr
Radarr é um aplicativo de rastreamento de filmes. Este programa facilita sua vida, sem a necessidade de se preocupar quando o esperado filme estiver no ar. Ele pode monitorar seus filmes através de listas como o IMDB, e assim buscar automaticamente seus filmes, além de transferir todos os arquivos da sua pasta de mídia, classificando-os e renomeando-os de acordo com sua configuração.
Minha configuração do Radarr
Jackett funciona como um servidor proxy: ele traduz consultas de aplicativos (Sonarr, Radarr) em consultas http específicas de sites rastreadores como ThePirateBay, YTS, EZTV e 1337x).
Minha configuração do Jackett
Mas esse eu tô querendo substituir pelo Prowlarr.
Motivação: Prowlarr is the Jackett alternative you need
Baseado nessa solução aqui
Outro exagero meu foi conectar todos os serviços usados pra monitorar séries e filmes numa VPN. Até aí tudo bem, mas eu usei uns conceitos bem específicos de kubernetes pra isso, tais como injetar um container que comunica com um gateway vpn toda vez que alguns parâmetros específicos são detectados. Da maneira que eu configurei, todos os pods de um namespace específico são conectados automaticamente nesse gateway VPN que por sua vez está conectado com a minha conta NordVPN.
Baseado nessa documentação: Roteamento de tráfico de rede usando um pod-gateway
Minha configuração: Pod-gateway
Acho que faço um artigo só sobre esse papo de gateway vpn mais pra frente.
O seu próprio site de reprodução de mídia, ou seja, sua Netflix pessoal. É isso que vamos usar para reproduzir os conteúdos na sua TV e outros dispositivos como tablets e smartphones.
Você instala e configura um servidor Jellyfin num computador com acesso aos seus arquivos de mídia e depois um aplicativo cliente nos dispositivos que você usar para assistir esses conteúdos, ou também pode ser acessado pelo navegador.
Minha configuração do Jellyfin
Aplicativos:
Usei Kodi como servidor multimídia por vários anos, mas ainda precisava colocar os arquivos lá manualmente, o que era bem pouco prático. Foi aí que descobri Sonarr e Radarr, que elevaram bastante o nível de conforto e simplicidade pra gerenciar as coisas que assisto/quero assistir.
A migração pro Jellyfin aconteceu quando o aplicativo do Kodi parou de funcionar e eu tive que refazer tudo do zero. Como o Jellyfin eu consigo configurar dentro do cluster e usar a mesma estratégia de backup que já tá rodando lá tem anos, isso facilitou muito a minha vida. Fiquei bem feliz com o resultado e com o fato de que que agora eu posso simplesmente abrir uma aba no navegador de qualquer dispositivo que eu tenha e dar play no filme ou série que acabou de ser adicionado lá, sem aplicativo, sem ter que ir na TV ou qualquer coisa do tipo. Simples de dar play, é assim que eu definiria.
Claro que a maneira que eu fiz esse servidor atual é um exagero, e óbvio que dá pra rodar isso tudo num computador velho sem Kubernetes e essas outras maluquices que eu coloquei, mas eu me divirto em ter um mini datacenter dentro de casa.